quinta-feira, 14 de junho de 2012

Dia dos namorados

     Sei lá, mas o dia dos namorados não é pra mim uma data assim tão tão importante. Na verdade, não é que não seja importante, é que, pra mim, não é uma data em que obrigatoriamente tenha-se que fazer coisas diferentes ou gastos astronômicos. Lógico que, como toda mulher, adoro mimos e presentes, mas sinceramente, prefiro sentimentos verdadeiros e profundos.
     Meu dia dos namorados foi bacana, fiz um jantar especial pra gente, ganhei um presente maravilhoso, dei vários presentinhos ( nem tão maravilhosos assim, mas de coração), mas o dia que de fato foi pra mim dia dos namorados foi o sábado. Isso porque no sábado à noite eu estava muito muito cansada, corpo dolorido, naquele estado de pré gripe (hoje já não mais pré), me joguei na cama e fiquei lá, encolhida, jogada, quase dormindo. Aí recebi janta na cama, mimos, carinhos, massagens...ai...isso sim é digno de dia dos namorados. Isso faz uma pessoa sentir-se amada.
     Espero todo dia poder corrersponder e fazer com que ele se sinta tão amado quanto me sinto...

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Falando em Raul, obviamente me vem à mente a pessoa que, já habitualmente, não sai dela: meu filho. Dei-me conta de que muito raramente falo sobre ele na internet, nas coisas que publico e escrevo. Aí fiquei questionando o porquê e descobri: ele é a coisa mais preciosa da minha vida, a pessoa que mais amo nesse mundo, literalmente meu tesouro, e sinto como se quisesse protege-lo tanto, coloca-lo em uma redoma. Mas é claro que isso não é possível nem saudável, sem contar que deixo de mostrar ao mundo o orgulho e felicidade que ele trouxe à minha vida desde que nasceu.
Agradeço a Deus todos os dias primeiro por te-lo comigo e depois por ele ser do jeito que é: inteligente, carinhoso, carismático, alegre. Quem o conhece se encanta com ele de cara.
Certo que ele tem alguns defeitos: um mau humor do cão em alguns momentos, uma preguiça infinita. E ainda bem que ele tem esses defeitinhos, porque senão seria perfeito e perfeição não existe e graças a Deus que ele existe!


domingo, 3 de junho de 2012

Acabamos de chegar di cinema...estou ainda encantada pelas imagens e depoimentos sobre um de meus ídolos: Raul Seixas.
O que mais me impressionou no documentário "Raul Seixas: o início, o fim e o meio" foi mostrar com tanta simplicidade e crueza como tudo na vida dele aconteceu. A impressão que tive sobre ele é de um gênio ingênuo e influenciável.
Infelizmente, como quase todos os gêniais artistas da minha geração e de outras, foi consumido pela droga da droga, mas deixou uma obra maravilhosa, rock feito de poesia...lindo...Adorei!

Texto de Vinícius de Moraes - Anne Frank tinha que ter lido isso!!!

A transfiguração pela poesia

Creio firmemente que o confinamento em si mesmo, imposto a toda uma legião de criaturas pela guerra, é dinamite se acumulando no subsolo das almas para as explosões da paz. No seio mesmo da tragédia sinto o fermento da meditação crescer. Não tenho dúvida de que poderosos artistas surgirão das ruínas ainda não reconstruídas do mundo para cantar e contar a beleza e reconstruí-lo livre. Pois na luta onde todos foram soldados - a minoria nos campos de batalha, a maioria nas solidões do próprio eu, lutando a favor da liberdade e contra ela, a favor da vida e contra ela - os sobreviventes, de corpo e espírito, e os que aguardaram em lágrimas a sua chegada imprevisível, hão de se estreitar num abraço tão apertado que nem a morte os poderá separar. E o pranto que chorarem juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal-entendido.
Porque haverá nos olhos, na boca, nas mãos, nos pés de todos uma ânsia tão intensa de repouso e de poesia, que a paixão os conduzirá para os mesmos caminhos, os únicos que fazem a vida digna: os da ternura e do despojamento. Tenho que só a poesia poderá salvar o mundo da paz política que se anuncia - a poesia que é carne, a carne dos pobres humilhados, das mulheres que sofrem, das crianças com frio, a carne das auroras e dos poentes sobre o chão ainda aberto em crateras.
Só a poesia pode salvar o mundo de amanhã. E como que é possível senti-la fervilhando em larvas numa terra prenhe de cadáveres. Em quantos jovens corações, neste momento mesmo, já não terá vibrado o pasmo da sua obscura presença? Em quantos rostos não se terá ela plantado, amarga, incerta esperança de sobrevivência? Em quantas duras almas já não terá filtrado a sua claridade indecisa? Que langor, que anseio de voltar, que desejo de fruir, de fecundar, de pertencer, já não terá ela arrancado de tantos corpos parados no antemomento do ataque, na hora da derrota, no instante preciso da morte? E a quantos seres martirizados de espera, de resignação, de revolta já não terão chegado as ondas do seu misterioso apelo?
Sofre ainda o mundo de tirania e de opressão, da riqueza de alguns para a miséria de muitos, da arrogância de certos para a humilhação de quase todos. Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha, das pernas em couro, do corpo em pano e da cabeça em aço. Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolos
De força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra, da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões.
A esse mundo, só a poesia poderá salvar, e a humildade diante da sua voz. Parece tão vago, tão gratuito, e no entanto eu o sinto de maneira tão fatal! Não se trata de desencantá-la, porque creio na sua aparição espontânea, inevitável. Surgirá de vozes jovens fazendo ciranda em torno de um mundo caduco; de vozes de homens simples, operários, artistas, lavradores, marítimos, brancos e negros, cantando o seu labor de edificar, criar, plantar, navegar um novo mundo; de vozes de mães, esposas, amantes e filhas, procriando, lidando, fazendo amor, drama, perdão. E contra essas vozes não prevalecerão as vozes ásperas de mando dos senhores nem as vozes soberbas das elites. Porque a poesia ácida lhes terá corroído as roupas. E o povo então poderá cantar seus próprios cantos, porque os poetas serão em maior número e a poesia há de velar.


* Primeira crônica do A., publicada em A Manhã, 1946.